Afinal, o que é a Sharia?




Com os recentes acontecimentos no Afeganistão, os mulçumanos tornaram a ser manchetes dos jornais. 

Muitas dúvidas, questionamentos e curiosidades surgem em torno da religião que se funde e se mistura com a cultura de muitos países árabes, mas que não é exclusividade deles, afinal, mulçumanos estão presentes em todos os continentes.


Em relação á religião mulçumana, um dos temas mais questionados e confusos para quem não professa a fé islâmica é a Sharia (ou Xaria). Este termo é quase sempre associado ao terrorismo e a fundamentalistas religiosos, o que acaba gerando desinformação e consequentemente, preconceito.


Então afinal, o que é a Sharia?





Este termo é árabe e pode ser traduzido como "caminho até a fonte" (de água) e significa de um modo geral, um caminho á ser seguido. Ou seja, são normas de conduta individual, pessoal, moral e social que todo mulçumano deve observar de forma espontânea, jamais imposta.


Estas normas são baseadas no Alcorão - o livro sagrado dos mulçumanos, nos hadiths - que são as narrativas acerca da vida do profeta Maomé, e nas sunnahs - que são as práticas e formas de viver do profeta. Tudo isso forma a "lei islâmica", ou o direito exclusivamente aplicado á mulçumanos, porque define em que um mulçumano deve crer, tudo que ele deve fazer, como fazer e tudo o que ele não deve fazer. O direito mulçumano é parte da religião.


Porém, também há quem defenda que, embora a Sharia seja um código de conduta, ela não deve ser considerada uma "lei" porque sua essência não é legislar e sim, orientar, conduzir quem livremente escolhe a religião islâmica para si. 

Quem defende que a Sharia não é um regra de conduta, e sim uma orientação de conduta, enfatiza que a imposição da religião - e isso inclui a Sharia porque uma coisa está indexada a outra - pode levar á hipocrisia, á uma profissão de fé falsa e vazia, que é algo abominável, segundo o Alcorão.


Porém, tanto os mulçumanos que consideram a Sharia uma lei, quanto os que a consideram uma orientação de conduta, concordam que grupos extremistas como o Talibã agem de forma contrária á todos os ensinamentos do Alcorão sagrado.


As punições mais severas como apedrejamento, mutilação e chibatadas são penas para crimes "hudud" (pronuncia-se hudood): roubo e adultério, por exemplo. Porém, essas punições raramente são efetivadas de forma legal - mesmo em países totalmente mulçumanos como a Arábia Saudita - por várias questões. 

A aplicação severa e cruel dessas punições, bem como o cerceamento dos direitos das mulheres, está ligada muitas vezes a interesses pessoais e de poder político de governantes, que buscam seus próprios interesses. 


E é importante ressaltar que os assuntos centrais da Sharia são sobre coisas como a oração e as regras, rituais de higiene que são necessários para realizá-las, sobre o jejum, sobre dízimos de caridade, a peregrinação a Meca, sobre caça e abate de animais, e sobre o que se pode comer e não pode comer.
Ou seja, a Sharia não se resume á crimes ou sobre as mulheres

 
Países como a Arábia Saudita, Catar e Iêmen, usam a Sharia como constituição única, de acordo com suas próprias interpretações e cultura. 
Mas também há países que adotaram o sistema dual. São países em que o governo é secular, mas os mulçumanos possuem a opção de serem julgados pela sharia, em situações de heranças, divórcios e casamentos, por exemplo. É o caso da Inglaterra, que possui corte islâmica desde 2008, além do Quênia e parte da Nigéria.

Grupos extremistas como Talibã e Estado Islâmico possuem seus próprios tribunais, com uma interpretação brutal do Islã, para fundamentar seu controle político, geográfico e bélico e não possuem apoio ou respaldo da religião para efetivar barbáries.


Para o islã existe a ideia de que é melhor errar em misericórdia do que em castigo e portanto, os juristas mulçumanos que realmente observam a religião, procuram exercer a misericórdia á aplicar os castigos mais severos da Sharia. 
E fazem isto embasados principalmente no próprio Alcorão.  Veja: 

(24ª SURATA)
2 Quanto à adúltera e ao adúltero, vergastai-os com cem vergastadas*, cada um; que a vossa compaixão não vos demova de cumprir a lei de Deus, se realmente credes em Deus e no Dia do Juízo Final. Que uma parte dos fiéis testemunhe o castigo.

 


4 E àqueles que difamarem as mulheres castas, sem apresentarem quatro testemunhas, infligi-lhes oitenta vergastadas e nunca mais aceiteis os seus testemunhos, porque são depravados.


*vergastadas = chibatadas


Segundo estudiosos, o que está escrito neste trecho do livro sagrado deixa claro que embora a punição para adultério seja severa, também há subsídios que de certa forma "dificultam" a banalização desta punição, ou sua aplicação injusta e sem misericórdia. 

Portanto, a Sharia não significa, de modo simplista, punições e restrições e sim, é uma forma de um muçulmano responder a seguinte questão: “O que agrada a Deus?”  



Por: Kathy Moreno

Uma pessoa curiosa escrevendo para outras pessoas curiosas.

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